Natal, e não Dezembro
Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio,
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.
Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
De mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.
David Mourão-Ferreira*, Cancioneiro de Natal(Prémio Nacional de Poesia)
Numa época propícia ao renascimento e à reconciliação... desejo a todos um Natal verdadeiramente vivido com muita alegria e paz, que se estenda por todo o Ano de 2010. Boas Festas!
Beijos e abraços bem agasalhados (convém)
JP
Fonte: a minha amiga tripeira M. e a problemática Ni :) ;
*- David Mourão-Ferreira, escritor português (Lisboa, 24.2.1927 – Lisboa, 16.6.1996): poeta, ficcionista, tradutor, dramaturgo, ensaísta, cronista, crítico literário, conferencista, professor. Licenciou-se em Filologia Românica (1951) com a tese «Três Coordenadas na Poesia de Sá de Miranda», pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (INSTITUTO CAMÕES).
2 comentários:
Só porque levanto muitas questões, não quer dizer que seja problemática :)
Espero que tenhas tido um Bom Natal.
Ni,
Tive um óptimo Natal, obrigado.
Quanto ao problema problemático... é um problema. :))
Beijitos
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