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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Profundamente… belo e sereno

Pedro Barroso – “Eterno”

Pedro Barroso – Eterno

Quero que gostes de Pina Baush, ou até já nem gostes,
queiras mais queiras diferente;
que gostes da cor e do risco forte de Miró
e do canto desiludido e fundo de Ferré;
quero que aprecies os cheiros sensíveis da eternidade
do grande bruto grande e do pequeno sensível e pequeno;
quero que mores nas páginas da Photo e embora sendo um modelo de virtudes
representes, como um todo, a cortesã mais lassa para mim;
quero-te com mãos de pedra e de veludo;
quero que ames o chique e a Serra d'Aire
- mais o safari que a recepção,
quero que mores e sofras nas páginas de Guido Crepax
e que te irrites com a perfeição absoluta, a perfeição absoluta de um retrato de Medina
quero que, se possível vivas dentro do anúncio do Martini,
isso, felina e ondulante lá longe, felina e ondulante numa ilha tropical
quero que sejas capaz de divertir-te, de soltar uma ampla gargalhada,
ante o espectáculo ridículo e obsceno que seria de um homem de Quinhentos
a quem atribuíssem um número de contribuinte
quero que ames o longe e a miragem, como o Régio
e que sejas louca e sábia e que tenhas lábios e mordas,
língua e sorvas, sexo e sexes, salto e salto, riso e rias,
sorvedouro inteiro de vida, arrepio de garça, sacudir de cisne,
passos de corsa, graça de arlequim,
pose de Diva, corpo de areia e luz.
E quero que me dês muito, que me dês tudo,
e que abras as janelas de par em par ao Tejo
e fecundes um poema em cada gesto
e voes como a gaivota em cada espreguiçar
e partas para a Índia em cada cacilheiro
e que sejas, mores, vivas e creias
longe
muito longe daqui...

quero que sejas profundamente minha e ritual
obsessiva e lúcida, doente, febril, tremendo de desejo
disposta a tudo e a mais e a muito mais,
boca de Mundo, seios de Mármore, corpo de Alfazema
e sobretudo Mulher e sobretudo amante.
Se existires assim, nua, inteira, absoluta e pessoal
responde-me
que eu fico aqui, eu fico aqui, eterno, à tua espera.

terça-feira, 30 de março de 2010

FAZER 99 ANOS

Raios partam a minha cabecinha!

Hoje que deveria estar feliz da vida, sinto uma tristeza vinda de não sei de onde... algo me incomoda. Tal como uma nuvem que tenta esconder o sol...

Para Ti... Mãe do meu Pai... que também me criaste e formaste... dedico este poema. Merecias mais... os teus 99 anos mereciam mais... mas saber que não estás bem incomoda-me... e muito.

 

FELIZ ANIVERSÁRIO NATALÍCIO!!!

Do teu neto vai... um beijo do tamanho do mundo!!!

 

FAZER ANOS

Fazer anos, vede vocês
Viver enganos... que insensatez!

Ver vir a morte, cruel e dura,
Cantar a sorte... grande loucura!

Morrer aos poucos, pomposamente,
É só p’ra loucos... p’ra algum demente!

Festejar anos, pr’a quê, senhores?
Viver enganos, enganadores.

Dai graças antes ao Bom Senhor,
Pedi somente bênçãos d’amor.

Que vos conserve um ano mais
E vos preserve, pobres mortais,

Que tudo aquilo que nesta vida
Pode afligir, causar ferida.

Festejar anos... oh! Não queirais
Viver enganos, nunca, jamais!

A. Alves de Campos

Bibliografia:
Campos, António Alves de, «Fazer Anos», Poesias - Sonhos Meus, Lisboa, 2001, p. 9

 

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Anos velhos… Ano Novo

Está no fim mas hoje ainda é Dia de Reis... mas devo ter um problema de sintonização nas glândulas cerebroreligiosas... até ao momento não senti nada de extraordinário.

Espero que a quadra Natalícia que termina no próximo domingo, dia 10, vos esteja a correr de feição... que assim continue.

Natal... Natal...como não poderia deixar de ser passei a véspera e o dia junto daqueles que amo e para não variar incluiu bacalhau, presentes, e lareira... foi uma mimalhice pegada. Esta época sempre me incomodou mas este ano sinto-a de um modo diferente... estou mais descontraído, com o pensamento onde me encontro. Foi precisamente isso que o meu sorriso tranquilo transmitiu a uma das pessoas que me criou, quando a dada altura me afastei do aconchego da lareira... finalmente sentiu que nos próximos tempos estaremos ainda mais próximos... longe de outro continente e de outros pensamentos que me distraíam. Nada como uma bela colecção de cabelos brancos para ganhar um pouco de juízo.

Nessa noite dei comigo a tentar compreender não tanto o motivo que na altura me levou a tomar certos caminhos... alguns quase esquecidos... mas antes se os senti intensamente, no que resultou, que experiência adquiri e se cresci ao vivê-los... e lembrei-me de algo que a Menina Eu Mesma! escreveu há uns tempos. Não plagiarei a su’A Estrada Da Vida, as suas rotundas e a sua propensão pela velocidade... (Miúda doida... como todas, livra!)... mas com base no seu texto fiz uma pequena retrospectiva do meu passado e deduzi que ao longo da auto-estrada deparei-me com demasiadas encruzilhadas... que excessivas vezes saí do seu bem-dito alcatrão e trilhei estradas que mais pareciam atalhos. Conclui que foram inúmeras as derrapagens, as tocadelas e as amolgadelas daí resultantes mas nenhuma me impediu de continuar a jornada... que raras vezes palavreei pela janela, acusei, e gesticulei, no entanto como aviso recorri inúmeras vezes às apitadelas e às luz... que sempre me dei como culpado quando reconheci o erro... e não me recordo de alguma vez sentir inimizade por outros condutores. Poderia não gostar da sua condução mas tê-los como inimigos não me recordo... que vivi intensamente os percursos...

E eis que o meu pensamento foi interrompido pelo telemóvel... (maldito sejas!)... duas vezes por vozes africanas e uma lusa. Se as duas primeiras me surpreenderam pela positiva a lusa fez-me descer à terra. Alguém se sentia só... só numa noite daquelas é crime! Mas felizmente consegui adocicar um pouco a sua noite e em retribuição recebi uma prenda inesperada: “... tens uma voz tão bonita... gostei imenso de falar contigo...”.

Os meus pensamentos ficaram por ali... afinal, a noite pertencia à família.

O Novo Ano já cá canta...

Desejo que o Ano de 2010 nos traga tudo aquilo a que temos direito... mas para que tal aconteça teremos que lutar por isso. A este respeito... a Menina Vela, que ilumina todos os que a rodeiam, muito simpaticamente, dedicou-me um bonito poema de Carlos Drummond de Andrade que partilho convosco... estou certo que a Velinha não se incomodará.

Um feliz Ano de 2010, façam por isso... e continuação de Boas Festas.

 

Para vós... para nós...

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de Janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Cada um…

Cada um cumpre o destino que lhe cumpre

Cada um cumpre o destino que lhe cumpre,
E deseja o destino que deseja;
Nem cumpre o que deseja,
Nem deseja o que cumpre.

Como as pedras na orla dos canteiros
O Fado nos dispõe, e ali ficamos;
Que a Sorte nos fez postos
Onde houvemos de sê-lo.

Não tenhamos melhor conhecimento
Do que nos coube que de que nos coube.
Cumpramos o que somos.
Nada mais nos é dado.

Fernando Pessoa, Odes de Ricardo Reis