Está no fim mas hoje ainda é Dia de Reis... mas devo ter um problema de sintonização nas glândulas cerebroreligiosas... até ao momento não senti nada de extraordinário.
Espero que a quadra Natalícia que termina no próximo domingo, dia 10, vos esteja a correr de feição... que assim continue.
Natal... Natal...como não poderia deixar de ser passei a véspera e o dia junto daqueles que amo e para não variar incluiu bacalhau, presentes, e lareira... foi uma mimalhice pegada. Esta época sempre me incomodou mas este ano sinto-a de um modo diferente... estou mais descontraído, com o pensamento onde me encontro. Foi precisamente isso que o meu sorriso tranquilo transmitiu a uma das pessoas que me criou, quando a dada altura me afastei do aconchego da lareira... finalmente sentiu que nos próximos tempos estaremos ainda mais próximos... longe de outro continente e de outros pensamentos que me distraíam. Nada como uma bela colecção de cabelos brancos para ganhar um pouco de juízo.
Nessa noite dei comigo a tentar compreender não tanto o motivo que na altura me levou a tomar certos caminhos... alguns quase esquecidos... mas antes se os senti intensamente, no que resultou, que experiência adquiri e se cresci ao vivê-los... e lembrei-me de algo que a Menina Eu Mesma! escreveu há uns tempos. Não plagiarei a su’A Estrada Da Vida, as suas rotundas e a sua propensão pela velocidade... (Miúda doida... como todas, livra!)... mas com base no seu texto fiz uma pequena retrospectiva do meu passado e deduzi que ao longo da auto-estrada deparei-me com demasiadas encruzilhadas... que excessivas vezes saí do seu bem-dito alcatrão e trilhei estradas que mais pareciam atalhos. Conclui que foram inúmeras as derrapagens, as tocadelas e as amolgadelas daí resultantes mas nenhuma me impediu de continuar a jornada... que raras vezes palavreei pela janela, acusei, e gesticulei, no entanto como aviso recorri inúmeras vezes às apitadelas e às luz... que sempre me dei como culpado quando reconheci o erro... e não me recordo de alguma vez sentir inimizade por outros condutores. Poderia não gostar da sua condução mas tê-los como inimigos não me recordo... que vivi intensamente os percursos...
E eis que o meu pensamento foi interrompido pelo telemóvel... (maldito sejas!)... duas vezes por vozes africanas e uma lusa. Se as duas primeiras me surpreenderam pela positiva a lusa fez-me descer à terra. Alguém se sentia só... só numa noite daquelas é crime! Mas felizmente consegui adocicar um pouco a sua noite e em retribuição recebi uma prenda inesperada: “... tens uma voz tão bonita... gostei imenso de falar contigo...”.
Os meus pensamentos ficaram por ali... afinal, a noite pertencia à família.
O Novo Ano já cá canta...
Desejo que o Ano de 2010 nos traga tudo aquilo a que temos direito... mas para que tal aconteça teremos que lutar por isso. A este respeito... a Menina Vela, que ilumina todos os que a rodeiam, muito simpaticamente, dedicou-me um bonito poema de Carlos Drummond de Andrade que partilho convosco... estou certo que a Velinha não se incomodará.
Um feliz Ano de 2010, façam por isso... e continuação de Boas Festas.
Para vós... para nós...
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de Janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
Carlos Drummond de Andrade